COBERTOR DE POBRE, por Celso Antunes

COBERTOR DE POBRE, por Celso Antunes

Nem mesmo pode-se chamar de ‘hóspede’ o que chegou na cidade e não tem data de saída.

Pelo jeito como as coisas vêm acontecendo é provável que se torne residente, ninguém alimente a esperança de se ver livre dele em poucos dias.

A ilusão da “gripezinha”, fruto da ignorância que provocou mortes e prejuízos irreparáveis, é página das trevas da história.

Está-se diante de um “serial killer” muito mais violento que Lázaro Barbosa, o assassino procurado de Brasília.

O hóspede invisível é o vírus da pandemia de Covid-19. Chamado SARS-Cov-2 provoca a doença “Síndrome Respiratória Aguda Grave” que causa morte.

Ele não usa Hotel, se hospeda no corpo do cidadão e se alastra pelo contato de pessoa a pessoa.

Nessa marcha assassina já contaminou mais de 10% da população lindoiense e enlutou 40 famílias de pessoas conhecidas, amigas, que deixaram saudade, tristeza e insegurança.

Outros mais ainda se encontram respirando por máquinas, foram transferidos aguardam na fila leito de UTI, os que se recuperaram lutam para se restabelecer, pois os intubados precisam voltar aprender a andar de novo.

Somente a equipe médica e familiares podem descrever o drama terrível causado por esse hóspede maligno.

Segunda-feira (21) começa o inverno. O ataque viral é esperado.

É preciso redobrar os cuidados, mesmo pelos poucos que já foram vacinados, como manter o distanciamento social, lavar as mãos, desinfetar com álcool gel e usar máscaras.

Aí está um nó da questão.

Os lindoienses, dos mais diferentes níveis culturais como somos, muitos são contra o uso de máscaras. Por levantamento rápido ao circular de carro se conta em média 3 entre 10 cidadãos não usando máscara. Alguns, até figuras destacadas, se consideram reis da cocada preta não usam.

Esses 30% são inimigos públicos número 1, pois são agentes de contaminação que impedem que as estatísticas em saúde melhorem.

Não são culpados, seguem o autor da “gripezinha”, o Presidente da República, que passou a defender outra ideia recentemente, a de que a contaminação é mais eficiente que a vacinação (17.06).

A ciência médica garante o contrário, a única proteção segura é a vacina e a contaminação mata.

O poder público municipal tem seguido a lógica da ciência e não da ignorância. Mas, não bastam apenas decretos, é preciso apertar a fiscalização e exigir que o cidadão na rua esteja de máscara.

A confusão reina no país. A dificuldade de encontrar uma saída é grande no município porque a crise financeira é uma realidade.

São dois senhores, a saúde e as finanças, o espírito do último decreto municipal foi tentar acomodar ambos.

Sabe-se que é impossível atender a dois senhores ao mesmo tempo, a situação é mesmo como o cobertor de pobre se cobrir a cabeça descobre os pés ou vice-versa.

É preciso coragem e fazer escolhas.

Desde o mês de maio a Letalidade (número de óbitos em relação ao número de casos), tem se mantido em 2,3%. Isto é, de cada 100 contaminados, mais de 2 cidadãos morrem.

A Incidência, (número de casos calculados para 100 mil habitantes), nesse mesmo período, saltou de 5.774,1 para 9.107,8.

Há engano, me desculpe, no último decreto municipal ao afirmar que “a incidência” de novos casos nos últimos dias foi menor justificando a flexibilização do controle social da pandemia.

Nesse caso não se trata de incidência e sim “prevalência” que são novos casos verificados num momento.

Também, não se trata apenas da palavra, mas da interpretação real da doença, pois a incidência é índice da duração média da doença e não só de um instante.

Como se viu, anteriormente, a incidência quase dobrou em um mês. A conclusão é de que o hóspede indesejado continua se hospedando nos lindoienses sem sinal de mudança de comportamento.

Somente, quando zerar o número de mortes que tem mantido a média de 1 óbito por dia no município ou 70% da população seja vacinada a flexibilização será bem-vinda.

Fora dessa orientação, a gestão em saúde usa o modelo cobertor de pobre.

(Fonte: SEADE-SP – Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo).

 

*Celso Antunes, Águas de Lindoia (SP), escreve toda semana neste espaço.

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https://www.tribunadasaguas.com.br/2021/06/12/avivamento-nacional-por-celso-antunes/