PODER DE OLHOS AZUIS

Na última terça-feira (25) a atriz Ana Paula Arósio, a Hilda Furacão, a Giuliana de “Terra Nostra”, reapareceu em campanha publicitária do Banco Santander no Jornal Nacional.

Isolada com o marido na Inglaterra, sem glamour e longe dos holofotes há dez anos, assinou contrato de 8 milhões de reais para se tornar garota propaganda do Banco.

A publicidade é o resplendor do sistema financeiro do qual a Ibovespa (Bolsa de Valores) ultrapassou a 100 mil pontos na crise da pandemia.

O próprio Banco Santander faz previsão otimista de que a Ibovespa atingirá a 110 mil pontos no fechamento de 2020.

Cada ponto vale a R$ 1,00, será preciso ter uma carteira de 110 mil reais para entrar na Bolsa ao final de 2020 pela previsão do Santander.

Em última análise a compra e venda de ações no mercado financeiro é negócio altamente lucrativo em tempos de crise.

Está-se diante de um absurdo em tempos de pandemia.

O próprio analista-chefe da Necton Investimento, Glauco Legat, afirmou que essa relação não é lógica (Veja, 31.07).

O motivo se deve ao fato de as empresas aéreas e o setor de turismo receberam o baque mais forte da crise e a atividade industrial e a construção civil terem sido jogadas no fundo do poço.

Há ainda a se considerar a quase estagnação do PIB (Produto Interno Bruto) de 2017/19, a elevada desigualdade de renda da população, a grande carência de infraestrutura e que milhões de famílias só não estão na miséria devido o auxílio emergencial de R$ 600,00 criado pelo Congresso.

Os resultados positivos das Bolsas de Valores, tanto a americana como a brasileira, aconteceram porque o Banco Central injetou bilhares de dólares para garantir a liquidez dos bancos e assim dar segurança aos Investidores.

São essas injeções dos cofres públicos que animam o Mercado.

No Brasil outro fator também contribuiu, o encaminhamento da Reforma Tributária que é, também, uma exigência do Mercado financeiro como foram as reformas Trabalhista e da Previdência.

Para a grandiosa maioria da população brasileira isso tudo nada interessa, refresca ou resolve.

O poderoso “Mercado financeiro” é uma bolha formada por uma pequena comunidade de 100 mil ou pouco mais de pessoas da Avenida Faria Lima na Capital.

Os famosos “Investidores” não chegam a 1% da população (mais exatamente, 0,9%).

Esse pequeno mundo das finanças domina a política nacional atual.

É o responsável por quase tudo que acontece, é o governo de fato, não o eleito pelo povo.

O governo de fato é dirigido pelos interesses dos acionistas, para os interesses da Faria Lima, e não da população.

É possível entender isso com facilidade.

Entre as atividades do Estado as instituições centrais destacadas são a Secretaria do Tesouro e o Banco Central ligados ao Ministério da Economia.

Para o comando dessas instituições são nomeadas pessoas do Mercado financeiro ou alinhadas a ele.

Um exemplo é o “de acordo” do Mercado ao recém empossado secretário do Tesouro, Bruno Funchal.

Ilan Arbetman, analista do Ativa Investimento diz sobre Funchal:

É alguém alinhado com as diretrizes atuais e deve representar a continuidade de raciocínio do time econômico” (Correio Brasiliense, 16.06).

O raciocínio que diz é garantir a responsabilidade fiscal (controle de gastos do governo), sem nenhuma responsabilidade social.

A dívida pública federal está em torno de R$ 4,5 trilhões, é a principal fonte de renda do Mercado, claro, tem que colocar seus seguranças nos postos chaves para garantir o retorno dos juros.

Nesses postos militares não entram como acontece com outros ministérios.

É evidente, o governo eleito tem acesso a tudo menos à chave do cofre. Esta fica nas mãos dos representantes do Mercado.

O contrassenso está em que os que mais ganham no país (investidores, donos de Capital, Bancos), são improdutivos.

Nada produzem, seja um grão de feijão, de milho, um parafuso ou arruela, são parasitas.

Se o telefone tocar e for Ana Paulo Arósio, de lindos olhos azuis, diga que não estou.