BOATE AZUL

A capital de Mianmar promoveu intenso panelaço à meia-noite desta segunda-feira (01/02). No costume daquele povo afastar o mau batendo vasilhas de metal. É a explicação para o panelaço, uma forma de manifestação de protesto no Brasil. Mianmar acabava de sofrer golpe militar. Mianmar, antiga Birmânia, é país do Sudeste Asiático que faz fronteira com a China, a Índia e outros.

A população foi originada de mongóis vindos da China e se compõe hoje de diversas raças orientais.

Há semelhanças históricas com o Brasil. Mianmar sofreu golpe militar em 1962 e instaurou a ditadura que durou 54 anos, mais que o dobro do tempo da nossa. Em 1º de abril de 2016 foi eleito o presidente para governar o país restabelecendo o sistema democrático. Segunda-feira (01/02), sofreu novo golpe de estado pelos militares destituindo o presidente. Os militares alegam fraude eleitoral. O partido que os representa perdeu, vergonhosamente, as eleições para o Congresso (396 x 80)

A comunidade internacional condenou o golpe numa reação em cadeia. A diplomacia estadunidense chegou a exigir que o exército reverta suas ações, imediatamente. A diplomacia brasileira, através do chanceler Ernesto Araújo, emitiu uma nota insignificante declarando esperar o retorno rápido do país à normalidade sem citar ou levar em consideração a gravidade do golpe militar. O mesmo Chanceler interpretou o episódio recente da Invasão do Capitólio nos Estados Unidos como manifestação democrática provocada por “pessoas de bem”.

Fanatizado por Donald Trump, adotou o discurso mentiroso de fraude eleitoral, azedando as relações entre o governo brasileiro e o eleito Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Em decorrência, o presidente Bolsonaro foi o último a reconhecer a vitória nas eleições estadunidenses e um dos poucos estadistas que não compareceram à posse de Joe Biden. O desastre na condução da diplomacia brasileira tem sido constante desde a eleição do presidente Bolsonaro. Uma das consequências ficou patente na recente “crise da vacina” com a China e da Índia.

O chanceler Ernesto Araújo foi substituído por outras personalidades para conduzir as negociações tendo em vista ser “persona non grata” para aqueles países assim como é para os Estados Unidos.  Ernesto Araújo é o principal representante da ala ideológica do governo Bolsonaro. Defensor de ideias como a da terraplana, de conceitos morais e religiosos medievais inspirados no astrólogo charlatão Olavo de Carvalho tem levado a diplomacia brasileira ao mais baixo patamar da sua história. Nenhuma nação da altura do Brasil tem reputação tão ruim no mundo como o de ser considerado “pária internacional”.

O Chanceler assim se manifestou em outubro passado: “Se a atual política externa do Brasil faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”. A resposta revela prepotência religiosa e autoritarismo como o que se depara em Mianmar. O panelaço em Mianmar acontecia ao mesmo tempo que, em Brasília, transcorria a festa de Arthur Lira, eleito novo presidente da Câmara. Festejava-se o retorno ao comando da nação dos grupos econômicos que dominam o Brasil, o Centrão de Lira é representante dessa oligarquia.

Aglomerados, sem máscara, regados à champanha dançavam e cantavam alegres ao som de Boate Azul de Bruno e Marrone. O resultado da eleição animou o mercado, principal regulador da economia no sistema neoliberal de Paulo Guedes. O mesmo mercado que se manteve, totalmente, mudo com o fim do auxílio emergencial.

A expectativa para quem depende do trabalho é péssima, desde o achatamento salarial ao ponto de nunca mais encontrar emprego na vida, como já acontece. A crise social chegará ao fundo do poço e o presidente Bolsonaro será questionado, qual a saída? Encontrará resposta na letra de Boate Azul: “Sair de que jeito, se nem sei o rumo para onde vou”