Por que algumas pessoas não se dão conta da gravidade da pandemia?

Apesar de diversos decretos e medidas que geram penalidades, nem sempre a imposição causa mobilização

Por que algumas pessoas não se dão conta da gravidade da pandemia? A resposta parece difícil e ao mesmo tempo uma intrigante reflexão sobre a vida e a banalização da morte.

As medidas de lockdown e toque de recolher vem sendo usadas de forma mais incisiva por estados e municípios na tentativa de diminuir a propagação da Covid-19. Apesar de diversos decretos e medidas que geram penalidades, nem sempre a imposição causa mobilização na sociedade. A pandemia se agrava a cada dia.

O uso de campanhas nas cidades, empresas privadas e meios de comunicação também são comuns, mas nem sempre essas iniciativas causam sensibilização e as aglomerações continuam. O Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortes por coronavírus, de acordo com o Ministério da Saúde.

O psiquiatra, Luan Diego Marques, explica que a obediência às regras é relativa a cada indivíduo de acordo com experiências de vida e o quão cercado por agentes motivadores a pessoa está.

“Se o indivíduo é cercado por pessoas que apoiam o isolamento, seja de esfera familiar, amigos ou até políticas públicas, ele se sentirá integrado. Nossos comportamentos são influenciados, muitas vezes, por fatores externos”, diz.

O lockdown e toque de recolher foi adotado por alguns estados devido a gravidade da pandemia, e a não obediência pode gerar multa de R$2 mil reais, como é o caso do Distrito Federal.

O especialista aponta ainda que medidas punitivas têm efeito frágil no comportamento humano, pois se a penalidade tem um valor baixo ou não possui fiscalização, a tendência é o não cumprimento do isolamento.

“Tentar mostrar para o indivíduo a importância do isolamento, não apenas por ele, mas pela vida de outros, é o caminho mais saudável para que ele consiga cumprir as regras sem burlar o sistema e se auto boicotar.”

Alguns estados e municípios apostam em campanhas com maior cunho de sensibilização, como foi o caso de Amarante (PI). A prefeitura da cidade piauiense criou a campanha “Amarante em ação: todos contra a Covid-19”, que consistiu em espalhar cerca de 60 profissionais da saúde em pontos estratégicos da cidade orientando a população por meio de panfletos e faixas, que enfatizaram os riscos do vírus.

Também foram distribuídas máscaras de proteção e o próximo passo da campanha é intensificar por meio das emissoras de rádio, para que as orientações cheguem até a população da zona rural.

Ao contrário de Amarante (PI), a capital federal optou por campanha com imagens reais de pacientes intubados e em leitos de UTI para mostrar a gravidade da doença. O governo do Distrito Federal afirma que o objetivo é mostrar a “verdade nua e crua” do problema quando as recomendações de segurança não são levadas a sério.

O consultor jurídico da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Ricardo Hermany, afirma que para obter uma conscientização das pessoas é necessário campanhas de educação sanitária que envolvam uma coordenação nacional.

“A criação do comitê nacional de enfrentamento a Covid-19 é algo importante e vai auxiliar, porque tem município que faz medidas restritivas de isolamento e outros não.” Hermany reitera ainda que a CNM orienta os gestores locais sobre as competências e atribuições em relação às medidas de restrição, mas que todas precisam estar documentadas e alicerçadas em parecer técnico e médico.

O lockdown é a versão mais rígida do distanciamento social que consiste em restringir a circulação da população em lugares públicos, permitindo apenas, e de forma limitada, para questões essenciais, como ir a farmácias, supermercados ou hospitais. Toque de recolher é quando o cidadão precisa se manter dentro de casa por um determinado horário.

A docente do curso de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Carla Pintas, afirma que a população precisa ser orientada de forma mais incisiva pelos gestores de cada cidade para compreender melhor a necessidade de se manter isolado.

O psiquiatra, Luan Diego Marques, analisa que faz parte da cultura brasileira manter contato físico, fazendo com que dificulte ainda mais o isolamento social. Por outro lado, a saúde mental costuma ser afetada diante de um longo período dentro de casa.

“O contato sempre foi uma ferramenta de melhorar o bem estar emocional, como ver a família, sair com os amigos e etc.”, destaca Luan.

Fonte: Brasil 61

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