O ROUBO QUE NÃO HOUVE

A invasão do Congresso dos Estados Unidos, em 06.01.2021, virou data da história da democracia ocidental.

A “Marcha sobre o Capitólio”, segundo analistas, foi movimento de ideias diversas, mas tendo em comum a intenção clara de confronto físico de uma guerra.

Não foi o simples “protesto” como se vê com frequência na vida democrática americana.

Alguns participantes disseram à imprensa que se tratava de “revolução”.

Seria “golpe” para exigir a anulação das eleições vitoriosas de Joe Biden.

Essa opinião é latino-americana pela larga experiência em golpes de Estado como os recentes de Honduras, Paraguai, Brasil e Bolívia.

O que se viu foi o ato radical que provocou 5 mortes e vandalismo generalizado no prédio.

Cientistas políticos norte-americanos se referem ao fato como “insurreição”.

Entendem como tentativa de se impor contra a ordem institucional a necessitar providências rigorosas das instituições para evitar que leve à guerra civil.

O objetivo, derrotar a democracia pluralista de todas as raças para impor a superioridade completa da raça branca dos chamados “supremacistas”.

A Marcha adotou a bandeira dos Confederados da Guerra Civil Americana (Guerra de Secessão, 1861-1865), símbolo do ódio racial e da sociedade dominada pela escravidão.

No próximo dia 20 ocorrerá a posse do presidente Biden.

Estão previstos protestos armados em várias cidades e na Capital, revelou o FBI e a Polícia Federal.

Serão colocados 10 mil soldados da Força Nacional para garantir a posse.

A Força Nacional é formada por grande maioria branca a necessitar de triagem para excluir soldados supremacistas.

A população americana é totalmente armada motivada, há décadas, pela aversão aos afro-americanos e está pronta para agir.

Há risco de que os Estados Unidos voltem a ser o circo de horrores do dia 06 com episódios exagerados de barbaridade.

O principal motivo do conflito é o racismo, o antagonismo racial é permanente e insolúvel na história do país.

A supremacia branca sempre procurou impedir o voto do eleitor afro-americano.

Nas eleições vitoriosas de Trump (2016), 3,5 milhões de afro-americanos não votaram e deram vitórias a Obama no passado e agora a Biden pelo comparecimento massivo às urnas.

A raiva de Trump e supremacistas se baseia nesse voto numa sociedade que imaginam pertencer apenas aos brancos descendentes de europeus.

Os supremacistas e mesmo nosso Chanceler Ernesto Araújo, proclamam Donald Trump “Salvador do Ocidente”.

Eles interpretam o MAGA – “Make América Great Again” – (“Faça a América Ótima Novamente”), como retorno ao passado, à linha dura da religião, do fervor de suas crenças, dos valores morais e dos costumes da família colonial tendo os negros como seres subalternos.

O “salvador” então seria, no mundo real, um louco de hospício encarregado de virar a roda da história no sentido inverso, do futuro para o passado.

Ele acredita que a tarefa começa por desconstruir o que existe e explica o fracasso com alucinações de teorias de conspiração (há várias).

Houve época que os estadunidenses foram marcados por frases como ‘Time is money” (Tempo e dinheiro), seguida por outra “Look the new car” (Olhe o carro novo) manifestação de inveja do vizinho pelo veículo adquirido.

Foi a fase dos pós 2ª Guerra cuja ambição tornou os Estados Unidos o país mais rico e poderoso do mundo.

Nos dias atuais não há mais ansiedade econômica e vários autores descrevem o comportamento estadunidenses como paranoico.

Eles acreditam em teoria de conspiração e se sentem, sem exceção, ameaçados por algo indefinido, um inimigo imaginário.

As mentiras (fakes) adquirem prestígio de “verdade” e sempre apontam para as mesmas causas: comunistas, judeus, maçons, satanistas, ocultistas, globalistas, homossexuais (LGBT) etc., pois se originam da extrema direita cristã de linha dura.

Trump mentiu.

Não foram encontradas provas concretas de fraudes eleitorais, não houve roubo.

Os Estados Unidos deram péssimo exemplo.

Perderam moral, conceito, condição e a lógica para a democracia ocidental.

 

Celso Antunes  15/01/2021