CRIMES E LOUCURAS

A catástrofe está consumada.

A pandemia está fora de controle, sem previsão de fim e do estrago que irá provocar.

As mortes ultrapassam a 300 mil pessoas, podem chegar ao dobro em pouco tempo, o atendimento médico-hospitalar faliu, há fila de 6 mil doentes graves aguardando leitos de UTI.

As mortes diárias podem chegar a 5 mil segundo a Fiocruz, há colapso no sistema funerário no fornecimento de urnas.

Não há equipe médica, equipamentos de intubação, leitos, remédios, oxigênio suficientes para atender à demanda crescente. Os profissionais de Saúde em atividade estão emocional e fisicamente esgotados pelo excesso de casos. O Brasil é campeão em número de óbitos desses profissionais causados pela covid-19.

O risco da doença aumentou com o aparecimento de variantes do vírus que atingem em 40% as faixas etárias mais jovens.

Aproxima-se o inverno, época de gripes, da H1N1, de vacinação necessária que não pode coincidir com a do coronavírus, uma dificuldade a mais a se enfrentar.

As cidades estão paralisadas, cada vez mais parecidas aos cemitérios, os cemitérios a loteamentos urbanos onde a atividade diária de sepultadores é contínua.

Empresas fecharam, muitas em definitivo, empregados foram dispensados, informais não têm como trabalhar, o consumo caiu vertiginosamente prejudicando o comércio.

A desonra nacional mostra sua cara, a extrema desigualdade social.

Milhões se encontram em situação de pobreza, dependem do auxílio emergencial que já virou esmola, e não chega, a fome bate à porta agravada pela falta de emprego e renda.

A vacinação, único meio efetivo de neutralizar o vírus é lenta. 300 mil são atendidos e outros 100 mil adoecem todos os dias.

Não há doses suficientes de vacinas para se empreender a velocidade superior à infecção embora o SUS tenha estrutura de atendimento à 10 milhões de indivíduos no esforço de três turnos diários.

Com a catástrofe consumada somente agora, tardiamente, o presidente Bolsonaro se propõe a comprar vacinas entrando no final da fila mundial para aquisição.

Não contará com a boa vontade de governos estrangeiros e empresas produtoras com os quais mantém péssimas relações diplomáticas, dos Estados Unidos à China.

O triunfo das negociações se dará pelo risco Brasil.

No cenário mundial o Brasil é epicentro da pandemia e laboratório natural de gestação de variedades virais que podem levar a humanidade a uma nova pandemia.

A realidade mostra o povo brasileiro jogado às traças, nos mais de dois anos que se passaram ele não existiu.

O governo se dedicou às questões ideológicas ultrapassadas, à economia de mercado que reduz o Estado no atendimento às necessidades da população, a cortar direitos dos trabalhadores e o presidente, exclusivamente, com a sua reeleição.

O descaso do Presidente com a pandemia obrigou a agir pelo contrário do que ele dizia e ainda diz. O caminho tomado pelos governadores foi fazer o oposto para dar certo.

Surgiram as medidas de isolamento, uso de máscara e pressão pela aquisição de vacinas independente de ideologia, Bolsonaro desatinado disse que jamais compraria vacina da China.

Rebelde às orientações científicas, por questões ideológicas, religiosas e ignorância, sabotou o combate à pandemia assumindo papel do charlatão a propagar o uso da cloroquina, ivermectina e tratamento precoce sem comprovação oficial de eficácia e postando-se contrário ao isolamento social.

Em momento algum demonstrou compaixão com mortos e familiares.

A população mais prejudicada não recebe o auxílio emergencial há quatro meses.

O contraste entre as mordomias dos altos escalões com as migalhas que pretende enganar aos pobres é o caráter de um governo desumano que transformou a questão sanitária em crise humanitária.

No futuro a narrativa histórica desse desgoverno confirmará o dito pelo historiador inglês, Eric Hobsbawm: “A história é o registro dos crimes e loucuras da humanidade”.

Celso Antunes, Águas de Lindoia

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