Hoje é Dia 01 de Junho, DIA DA IMPRENSA, e um artigo da Federação Nacional dos Jornalista defende a democracia e combate as fake news.

Democracia se constrói com informação de qualidade, sem censura e sem ‘fake news’

A disseminação em massa de “fake news” é um fenômeno global que tem consequências devastadoras para a vida e para a democracia. O problema é real e exige respostas efetivas que preservem o direito fundamental à liberdade de expressão, que permitam o livre debate de ideias e de perspectivas sobre os acontecimentos.

A sociedade precisa enfrentar essa pandemia de mentiras e desinformação, que são produzidas de forma coordenada por setores ideológicos, políticos e econômicos, que investem muito dinheiro e inteligência para distorcer propositadamente a realidade, com o objetivo de alcançar seus objetivos e defender seus interesses.

A crise sanitária, que neste momento atinge o mundo, revelou de forma dramática o perigo que as “fake news” representam: líderes políticos ignorando a ciência para dizer que o Covid-19 é apenas uma “gripezinha”, estímulo ao uso de medicamentos sem comprovada eficácia científica, a disseminação de conteúdos afirmando que a doença não existe, ou foi fabricada para derrubar o presidente, etc.

Em meio a essa crise, surge uma pressão para que o Congresso Nacional dê resposta legislativa para o combate às “fake news”.

É fundamental que deputados e senadores tomem a iniciativa de realizar um amplo debate público sobre o melhor caminho a ser adotado para enfrentar a pandemia da mentira e desinformação.

Nós, jornalistas e comunicadores sociais – que trabalhamos para oferecer informação de qualidade para a sociedade, que lutamos para dar expressão e visibilidade a fatos e opiniões que não têm espaço na mídia hegemônica, que temos contribuído para conferir mais pluralidade e diversidade ao debate público no Brasil – afirmamos que não se pode, sob o pretexto de combater as “fake news”, criar mecanismos privados de avaliação da veracidade de conteúdos jornalísticos.

Alertamos para o perigo que representará para a democracia e para a liberdade de expressão conferir às plataformas privadas da internet a responsabilidade de definir que conteúdos são ou não verídicos, iniciativa que inclusive viola o Marco Civil da Internet. Tampouco podemos acreditar que agências privadas de checagem de notícias podem cumprir esse papel com isenção e neutralidade, ou que seja possível nomear grupos de jornalistas com o poder de classificar conteúdos jornalísticos produzidos por outros jornalistas.

Não se combate “Fake News” criando um Ministério da Verdade. Sabemos como isso acaba: com a tentativa de legitimação da censura.

O problema contemporâneo envolvendo a disseminação de mentiras e desinformação pode ser combatido de outra forma: criando instrumentos legais e usando os já existentes para desmontar os gabinetes de ódio e as fábricas de produção industrial de “fake news”. Isso pode ser feito cruzando as fontes de distribuição de desinformação — nas redes sociais, nos sítios web — com os esquemas criminosos de financiamento dessas estruturas.

É preciso responsabilizar civil e criminalmente empresas que financiam essas estruturas para fabricar e disseminar de forma artificial esses conteúdos que podem trazer danos à vida e à democracia. Agentes públicos que financiem e produzam esse tipo de conteúdo também devem ser responsabilizados por isso.

Também é fundamental exigir que as plataformas prestem informações transparentes sobre todos os mecanismos de mediação de conteúdos que elas já utilizam para definir o fluxo da circulação dos conteúdos.

Só é possível enfrentar essa questões a partir de um amplo debate, o que pressupõe a construção de mecanismos que incluam os mais variados setores sociais na discussão de propostas concretas.

Neste momento de isolamento social, em que a Câmara e o Senado debatem remotamente, sem a realização de audiências públicas e outras formas de participação social, não é viável garantir amplo debate sobre o tema.

Neste sentido, alertamos para o perigo que pode representar para a democracia e para a liberdade de expressão a aprovação de qualquer projeto de lei sobre esse tema, de forma sumária e sem que estas formas de participação e diálogo amplo sejam produzidos.

São Paulo, 25 de maio de 2020.

 

Assinam este manifesto:

Entidades

Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Associação Brasileira de Imprensa

Abraço – Associação Brasileira de Rádios Comunitárias

Federação Nacional dos Jornalistas

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

Núcleo Piratininga de ComunicaçãoUnião da Juventude Socialista – UJS

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Confederação Nacional das Associações de Moradores – Conam

Agência de Notícias das Favelas

União da Juventude Socialista – UJS

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Confederação Nacional das Associações de Moradores – Conam

 

Veículos

Jornalistas Livres

Revista Fórum

Brasil 247

Le Monde Diplomatique Brasil

Viomundo

O Cafezinho

Outras Palavras

Diálogos do Sul

Jornalistas/Individuais

Altamiro Borges – presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

André Fernandes – Fundador da Agência de Notícias das Favelas

Antônio Martins – Editor do Outras Palavras

Aquiles Lins – jornalista, editor do Brasil 247 e doutorando em Ciência Política

Denise Assis – jornalista e colunista do 247

Fernando Morais – escritor e autor do blog Nocaute

Florestan Fernandes Jr – jornalista

Heloisa Toledo – diretora de teatro

Hildegard Angel – jornalista

Inácio Carvalho – Editor do Portal Vermelho

José Reinaldo de Carvalho – jornalista

Juarez Tadeu de Paula Xavier – docente do curso de jornalismo da Universidade Estadual Paulista

Kiko Nogueira – Editor Diário do Centro do Mundo

Laura Capriglione – Fundadora dos Jornalistas Livres

Leonardo Attuch – Editor do Brasil 247

Marcelo Auler – jornalista

Marcia Tiburi – filósofa

Miguel do Rosário – Editor do Cafezinho

Miguel Paiva – jornalistas pela Democracia

Paulo Salvador – da Rede Brasil Atual

Renata Mielli – jornalista, coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

Renato Aroeira – cartunista e músico

Rodrigo Vianna – jornalista

Sergio Lirio – redator-chefe da Carta Capital

Sergio Mamberti – Ator e dramaturgo

Silvio Caccia Bava – Editor do Le Monde Diplomatique Brasil

Teresa Cruvinel – jornalista

Vanessa Martina Silva – Editora da revista Diálogos do Sul

Ademir Wiederkehr – jornalista e Secretário de Comunicação da CUT/RS

Érica Aragão – jornalista e radialista

Maricélia Pinheiro de Almeida – jornalista do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre