Artigo: “A Leucena em Monte Sião”, por Thaís Aldério

Introdução à Leucena: uma planta versátil

A Leucena (Leucaena leucocephala) é uma planta exótica que, embora seja nativa da América Central e do México, foi amplamente disseminada em várias regiões tropicais ao redor do mundo. Seu uso e cultivo começaram a crescer nas últimas décadas, principalmente em áreas tropicais da África, Ásia e Pacífico. Ela é uma leguminosa de rápido crescimento, caracterizada por sua alta capacidade de adaptação a diferentes tipos de solo e clima, o que a torna uma planta resistente e de fácil cultivo.

A Leucena é conhecida por suas várias aplicações, desde o uso como forragem para animais até a produção de biomassa para combustão, sendo frequentemente utilizada em programas de reflorestamento e recuperação de solos degradados. A planta é notável por sua habilidade de fixar nitrogênio atmosférico, o que a torna uma excelente opção para melhorar a qualidade do solo, principalmente em áreas agrícolas que sofrem com a deficiência de nutrientes. Seus florais brancos e arredondados formam inflorescências vistosas que atraem abelhas e outros polinizadores, o que também a torna útil em programas de apicultura.

A Leucena é uma planta com uma característica notável: a presença de compostos tóxicos chamados mimosina nas folhas e sementes, que, em grandes quantidades, podem prejudicar a saúde de animais que as consomem. Isso limita seu uso como forragem, necessitando de cuidados no manejo de animais que se alimentam de suas partes verdes.

As sementeiras de Leucena podem ser bastante produtivas, produzindo uma grande quantidade de sementes com alto teor de proteína, o que a torna uma fonte interessante de alimentação para pequenos animais. Além disso, a planta pode ser cortada e utilizada como lenha ou para produzir carvão vegetal, devido ao seu crescimento rápido e ao fato de produzir uma madeira densa.

Potencial agronômico e riscos ecológicos

A planta possui uma estrutura arbustiva ou de pequena árvore que pode atingir até 10 metros de altura, embora, em áreas de cultivo intensivo, geralmente seja mantida em uma forma arbustiva, com alturas mais baixas. Suas folhas são compostas, com uma textura fina e delicada, e suasvagens são longas e cheias de sementes, o que facilita sua dispersão e proliferação em novas áreas.

Por outro lado, o caráter invasivo da Leucena em muitos locais tem gerado preocupações ambientais. Como ela cresce rapidamente e se adapta a diversos tipos de solo, a planta pode tomar conta de ecossistemas nativos, competindo com a vegetação local e alterando o equilíbrio das espécies nativas. Sua rápida proliferação é uma das principais razões pelas quais é considerada uma planta exótica invasora em algumas regiões tropicais.

A toxicidade da Leucena também é uma preocupação em áreas onde ela é cultivada. A presença de mimosina, uma substância que pode causar uma doença conhecida como toxicidade por mimosina em ruminantes, pode afetar a saúde do gado. Esse problema ocorre porque a mimosina, quando ingerida em grandes quantidades, pode ser metabolizada em compostos tóxicos que prejudicam o fígado e o sistema digestivo dos animais. Por isso, pesquisadores e técnicos recomendam que o manejo da Leucena para forragem seja feito com cautela.

A planta pode ser cultivada de maneira controlada, com técnicas que minimizem o risco de intoxicação, como o corte e a secagem das folhas antes de serem fornecidas aos animais, ou combinando-a com outras espécies de forragem mais seguras para o gado.

Aplicações sustentáveis e desafios no campo

Além de seu uso na alimentação animal e como biomassa, a Leucena também pode ser empregada em projetos de recuperação de solos. Sua capacidade de fixar nitrogênio ajuda a enriquecer solos pobres, tornando-os mais férteis e adequados para o cultivo de outras culturas.

Ela também é utilizada em projetos de agroflorestas, onde é plantada junto a outras espécies para promover a biodiversidade e melhorar a produtividade agrícola.

A Leucena também pode ser uma planta ornamental em algumas regiões devido à sua beleza floral. Embora seu uso ornamental seja limitado em algumas áreas devido ao seu comportamento invasivo, em lugares controlados e bem manejados, ela pode ser cultivada em jardins, oferecendo uma atração visual única com suas flores brancas e atraentes.

A Leucena em Monte Sião: expansão urbana e percepção social

Leuceuma
Ilustração / reprodução

Em termos de sustentabilidade, a Leucena tem um grande potencial para promover a recuperação de ecossistemas degradados, mas sua utilização deve ser cuidadosamente gerida para evitar os impactos ambientais negativos. Quando cultivada de maneira sustentável e integrada a sistemas agroecológicos, ela pode beneficiar tanto os agricultores quanto o meio ambiente, fornecendo alimento para animais, matéria-prima para combustível e ajudan…

Além das áreas rurais e zonas de uso agrícola, a Leucena tem se proliferado com destaque em áreas centrais e urbanizadas de Monte Sião. Essa expansão espontânea ocorre, sobretudo, em locais com solo exposto, baixa cobertura vegetal e ausência de planejamento paisagístico. Nas praças públicas, calçadas largas, margens de vias e até mesmo em canteiros, é comum observar exemplares da Leucena leucocephala crescendo de forma isolada ou em pequenos agrupamentos.

Um caso emblemático é o da Praça do Magiole, onde exemplares adultos de Leucena passaram a fazer parte da paisagem urbana. A sombra que essas árvores oferecem atrai moradores, famílias e crianças, que utilizam o espaço para atividades de lazer. Ao ouvir as crianças que brincam no local, percebe-se como a vegetação urbana influencia diretamente a experiência sensorial e emocional delas:
– “Elas são enormes, e dá pra fazer piquenique embaixo delas.” — Verônica, 9 anos
– “A casquinha dela é crocante, é gostoso pisar em cima!” — Marisa, 7 anos

Essas falas, embora simples, revelam a percepção ambiental infantil e sua relação direta com os elementos naturais da cidade. Ao mesmo tempo, sinalizam que a presença da Leucena já está enraizada no imaginário de quem convive com ela, o que reforça a importância do diálogo entre botânica, urbanismo e educação ambiental.

Biologia e ecologia da Leucena no meio urbano

Do ponto de vista biológico, a Leucena é uma planta heliófila, adaptada a ambientes abertos, com grande capacidade de germinação e resiliência a podas ou danos físicos. Sua reprodução ocorre majoritariamente por sementes, que são dispersas tanto pelo vento quanto por contato humano e animal. Em centros urbanos como Monte Sião, essa dispersão é favorecida pela ausência de predadores naturais, pelo microclima mais quente das ilhas de calor urbanas.

Além disso, a Leucena apresenta alelopatia – ou seja, libera substâncias químicas no solo que inibem o crescimento de outras espécies vegetais próximas. Esse mecanismo aumenta seu poder de invasão e reduz a biodiversidade ao seu redor, o que é especialmente problemático em áreas verdes urbanas onde se espera diversidade paisagística e ecológica.

Desafios urbanísticos e planejamento paisagístico

A presença não planejada da Leucena em áreas centrais do município levanta questões importantes para o urbanismo local. Árvores exóticas invasoras como ela, quando estabelecidas sem critérios técnicos, podem interferir no planejamento paisagístico, dificultar a implantação de espécies nativas e comprometer a estética e a funcionalidade do espaço público. Em algumas situações, suas raízes agressivas podem danificar calçadas e redes de infraestrutura,

Em Monte Sião, observa-se que diversas áreas centrais já apresentam presença significativa da Leucena, sobretudo em espaços sem manejo contínuo. Essa realidade exige uma abordagem integrada entre os setores de meio ambiente, obras e planejamento urbano, para que se avaliem possibilidades de substituição progressiva da espécie por árvores nativas ou adaptadas, com menor risco ecológico e maior valor paisagístico.

Caminhos para uma transição consciente

A transição ecológica e urbanística não exige erradicação imediata da Leucena, mas sim ações de manejo consciente, que podem incluir:- o controle de sua reprodução (remoção das vagens),- a poda direcionada e o plantio intercalado de espécies nativas,- e a educação ambiental voltada à população sobre a importância da vegetação urbana planejada.

A escuta das crianças e dos frequentadores das praças também deve ser valorizada nesse processo. Afinal, para muitos, aquelas árvores não são invasoras, mas parte da paisagem afetiva do bairro. Com planejamento, diálogo e ciência, Monte Sião pode construir uma arborização urbana mais diversa, segura e funcional, equilibrando a presença da Leucena com o fortalecimento da flora nativa e da qualidade de vida urbana.

Arborização urbana sustentável e seus benefícios

A arborização urbana planejada, quando baseada em critérios científicos de seleção de espécies (considerando porte, adaptabilidade e não invasividade), proporciona benefícios multifacetados à qualidade de vida humana, incluindo:

(1) regulação microclimática, com redução de até 5°C em ilhas de calor urbanas devido à evapotranspiração e sombreamento;

(2) melhoria da qualidade do ar, com captação de partículas finas (PM2.5) e sequestro de CO2 (uma árvore adulta pode absorver 150 kg de CO2/ano);

(3) bem-estar psicossocial, com comprovada redução de estresse e aumento da coesão social em áreas verdes;

(4) controle hidrológico, mitigando enchentes pela interceptação de até 30% da precipitação pluvial. Adicionalmente, o manejo técnico, como a substituição de espécies exóticas invasoras (e.g., Leucaena leucocephala) por nativas – previne danos à infraestrutura (raízes agressivas) e promove a resiliência ecológica, assegurando serviços ecossistêmicos de longo prazo sem comprometer a biodiversidade local.

Portanto, a integração de planejamento arbóreo com políticas urbanísticas é imperativa para cidades sustentáveis.

 

THAÍS ALDÉRIO é Bacharel em Ciências Biológicas pela instituição UNIP, pós graduanda em controle biológico, trabalha de forma independente na Biologia e atualmente é gestora do programa Jovens Mineiros Sustentáveis no Município de Monte desenvolvido pela SEMAD, um programa em parceria com o Governo do Estado de Minas Gerais, Secretaria de Agricultura e Secretaria de Educação.

Foto: Ilustração

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