Criatura dos pântanos

A notícia circulou nessa quarta-feira (7), o presidente Bolsonaro (ex-PSL) disse ter acabado com a Operação Lava Jato “porque não tem mais corrupção no governo”.

Há suspeita de irregularidades da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro em impressionantes 99,47 % dos contratos de combate à Covid-19, segundo a Controladoria-Geral do Estado (04/07).

O governador Wilson Witzel (PSL) está afastado do cargo por corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia foi apresentada pela Procurador Geral da República, Augusto Aras, nomeado pelo presidente Bolsonaro.

O ex-juiz seria líder de uma organização criminosa que conta com a participação do pastor Everaldo que batizou o presidente Bolsonaro

O relato acima é um pequeno resumo de grandiosa série de crimes cariocas nos quais a corrupção atua como fator inseparável da atividade político-econômica.

A degeneração do comportamento não poupa aos próprios filhos do presidente, parentes e amigos.

Há estado de guerra entre facções narcotraficantes por espaço de venda de drogas, se verifica o mesmo no submundo invisível da política entre grupos concorrentes no mercado de corrupção.

O fato explica os dois pesos duas medidas da política carioca.

Evidente na aprovação do pedido de impeachment do governador Witzel pela Assembleia Legislativa e a recusa do pedido ao prefeito Crivella pela Câmara Municipal.

Corrupção não é para principiantes tem que saber praticar o “crime perfeito”.

Witzel não tem expertise para tanto.

Colocou em risco o sindicato de bandidos além de invadir a área de corrupção de concorrentes.

Um vacilão, no linguajar carioca.

Nesse submundo cair em desgraça é fácil.

A ação é desenvolvida em rede de milícias, policiais civis e militares, funcionários públicos, juízes, religiosos, contraventores, narcotraficantes, políticos eleitos, elite capitalista, banqueiros, ladrões de carga e assassinos do escritório do crime.

As histórias são repetitivas, próprias de literatura policial, cujo enredo termina na queima de arquivo e mistério insondável.

O conjunto de fatos formam a “cultura do crime”, a base da política.

A luta pelo poder político se resume ao final em alcançar degrau mais alto na hierarquia da corrupção.

A telenovela Vale Tudo (Globo, 1988) deixava no ar a dúvida e apenas no último capítulo revelou quem matou Odete Roitman.

Os autores (Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères), encontraram a solução ideal no modo de ser da vida carioca: a morte causada por engano.

Curiosamente, o título original de “Vale Tudo” era “Pátria Amada”, sinais do Brasil futuro em quarenta anos.

A Cidade Maravilhosa se compara ao “Admirável Mundo Novo”, romance de Aldous Huxley, por viver a realidade fantástica pelo uso do Soma (droga)

A dúvida sobre o mandante de Adélio em Juiz de Fora é metáfora de Odete Roitman e o fato reproduz a mitologia do carnaval.

No vale tudo na vida real a morte de Marielle e Anderson, as rachadinhas (peculato), as falcatruas de Queiroz (lavagem de dinheiro) entre outros, são tratados como são os temas de novela de narrativa em fase preparatória sem prazo para terminar.

O exemplo da desordem do Rio de Janeiro, onde crime e corrupção são as constantes sem solução, é o caminho nacional.

O absoluto de que “não tem mais corrupção no governo” colocando o governo acima de qualquer suspeita é blindagem estilo carioca.

Os antecedentes estão na troca de comando da Polícia Federal (a qual o presidente responde em processo), demissão do juiz Sérgio Moro, nomeação de Augusto Aras para o MPF com incumbência acabar com o “lavajatismo” e a atual indicação de juiz garantista para o STF que vai pelo mesmo caminho.

O ex-juiz, ex-ministro, ex-bolsonarista Sergio Moro deu parecer sobre o fim da lava jato anunciando pelo presidente:

“Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”.

Moro continua a errar em seu diagnóstico.